Este blogue tem conteúdo adulto. Quem quiser continuar é risco próprio; quem não quiser ler as parvoíces que aqui estão patentes, só tem uma solução.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Musicas

Fado com um cheirinho a samba


À Inês


À paixão


Mensagem 260

Quando comecei o blogue nunca esperei atingir sequer as 200 publicações. Esta é a mensagem número 260 e já começa a ser complicado escrever coisas novas. Existem porém temas em que não me importo de voltar.

Não me vejo a morar longe do campo. Se bem que por estas bandas o que não há falta é de campo. As cidades não têm mais de meia dúzia de quilómetros de um lado ao outro, tudo o resto em volta é verde.

Para quem passa a vida a sonhar com uma casinha rodeada por verde e espaço para cultivar flores, nem sabe da "missa a metade". Imagino-me muitas vezes dentro de um apartamento, num prédio alto (que costumo por designar por aviário vertical) sem ter a necessidade de me preocupar com uma série de coisas. É o canil a precisar de limpeza, cortar as ervas, podar as árvores, limpar algerozes, abrir valetas, manter a rua limpa. É cansativo mas pensando bem, antes o campo que a loucura da cidade grande.

Afinal a cidade grande não está tão longe como parece. Para um lado tenho Caldas da Rainha, para o outro Torres Vedras. São os dois "monstros" urbanos da zona. As restantes urbes são apenas gotas no território oestino: Peniche, Óbidos, Lourinhã, Alcobaça, Rio Maior. Mais poderia referir mas são estas as quais tenho algum tipo de ligação.

Durante esta manhã, em que fiz diversos quilómetros de caminhada forçada, por questões profissionais, lembrei de pequenos episódios que já me aconteceram, histórias quantas vezes inacreditáveis. Recordo gente da cidade grande (Lisboa) que sempre sonhou com o campo e decidiu cá comprar casa. Depois queixam-se do cheiro do estrume nas terras, do toque nocturno do sino da igreja para anunciar as horas (proibido no âmbito da lei do ruído, algo que acho um tremendo disparate), das estreiteza das estradas e até do galo do vizinho estar sempre a cantar. Que querem?! Isto é o campo, não a cidade com jardins em redor.

Sou feliz onde moro (embora pudesse ser mais) e não o troco. Gosto de ir à cidade grande, para estar com os amigos que moram lá, para passear ou porque tenho mesmo que ir. Tal como os urbanos gostam de vir visitar o campo. Trata-se apenas de uma mudança de ares, que todos gostamos.

Pensei colocar umas fotografias ilustrativas, mas não me apetece agora. Pode ser que volte e enfeite um pouco mais o texto, pois já me dizem que estou a ficar literariamente sorumbático.


quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Coisas da vida

Odeio dias como o de hoje. Se na rua não se pode estar devido ao vento cortante e frio que me enregela até os ossos, dentro do escritório quase parece verão. Ando com roupa para me manter quente e depois fico com o corpo suado, sinto-me desconfortável.

Cada vez mais gosto de trabalhar só com homens. Não que não goste da companhia delas, simplesmente são mais picuinhas. Gosto de simplicidade, de poder falar à vontade e não ter receio de ferir susceptibilidades, ainda mais quando as colegas são loiras (nada contra normalmente) que quase de tudo fazem para dar razão a todas as anedotas que conheço sobre o assunto. Só me apetece deixar cascas de banana pelo chão.

O meu cão fica louco quando o tiro de dentro do quintal. Corre e salta como um louquinho, havendo alturas em que parece mais um canguru que um canino. É engraçado como marca todo o território; há sempre mais uma pinguinha para deixar vestígios da sua presença. Está frio mas o gajo adora passar pelas poças de água, em especial se tiver lama. Depois atira-se a mim... raios.

Migas para o jantar, de pão (ou broa, conforme o regionalismo) de milho. Não faltou a couve, o feijão encarnado e para ser diferente, umas rodelas de chouriço e duas postas de bacalhau cozidas e desfiadas. Acompanhou um bom tinto e uma boa conversa comigo mesmo.

Ligo o computador e depois o velho rádio, toca "Wake me up" do Avicii. Danço como um louco (felizmente ninguém assiste) com o som no máximo (para quem passa na rua perceber que tenho bom gosto). Vejo o facebook, o mail, leio os blogues do "grupo" (como um dos membros do grupo diz) e escrevo no blogue.

Falta a chamada telefónica para a mulher que eu mais amo. Depois a cama. É no leito que crio as melhores histórias: olhos fechados, música e sonhos. Não me lembrarei de nada amanhã, talvez seja essa a minha sorte.

Bom dia


quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Deus

Não sei como é possível que se viva sem acreditar...

... será que se vive?


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Humor

Às vezes esqueço que quem está do outro lado pode não ser tão bem humorado como eu, há quem viva de forma séria.

Eu prefiro viver sempre com um sorriso nos lábios ou uma boa gargalhada.

São feitios...


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sopa

Outono gelado. Noite.

Acendi a lareira e sentei-me no sofá. O computador ligado assim como a televisão. Acompanho um jogo de curling, embora não perceba muito do assunto. Joga a Alemanha contra a Noruega, equipas femininas.

Acabei de comer uma sopa feita ao cair da noite. Receita simples, com ingredientes que estavam no frigorífico. Colhi uma courgette que ainda cresceu no jardim. A próxima não deverá vingar por causa do gelo.

Aqui estou. O calor enche a sala aos poucos, embora seja complicada de aquecer. Um salão de baile neste castelo frio. Aos poucos o calor da lenha de oliveira diminui o frio que se faz sentir em alguns cómodos da casa. Lá fora está bem pior.

Não falta o calor do fogo... falta o restante...


sábado, 23 de novembro de 2013

Engate

Decidi que estava na hora de sair em busca de outro engate. Passei por todos os locais conhecidos e nada de encontrar o que pretendia. Uns engates eram demasiado velhos, gastos. Outros pareciam ser muito frágeis. Aquele era muito grosso. Um que não inspirava confiança.

As opções estavam a esgotar-se e eu, já quase desesperançado de encontrar o que realmente queria, resolvi àquele lugar que tantos falavam mas que nunca tinha tido coragem para lá ir.

A escolha era enorme e cada vez que vasculhava mais engates apareciam. Era tanta a escolha e na realidade apenas encontrava mais do mesmo: sempre o que encontrei nos outros lugares conhecidos.

Não havia outra escolha, tinha que ir em busca de um engate novo. Lá teria que desembolsar a quantia que estava destinada a outros assuntos. Dirigi-me ao local a que sempre tentei fugir. Por ironia do destino, já não havia o engate de que eu tanto precisava.


Raios. Como é que vou agora atrelar ao carro o reboque que tenho para ir à lenha?

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O conto da Margarida

O grupo reunia-se invariavelmente todas as noites. Um grupo de membros heterogéneos que preenchiam cada um dos lugares disponíveis. Não havia liderança. Os mais velhos davam a palavra aos mais jovens embora se notasse um respeito por parte dos últimos pelos que tinham mais experiência de vida.

O grupo era dono da noite, todo o espaço circundante lhes pertencia. O barulho provocava os cães e os outros moradores, os que viam na noite a oportunidade de descansarem para um novo dia de trabalho. Várias eram as vezes em que baldes de água, latas, sapatos velhos, voavam em direcção aos membros, que fugiam e gargalhavam pela falta de pontaria.

Não eram vagabundos. Assim que surgiam os primeiros raios de sol, retornavam a casa. Deitavam-se de papos para o ar, refastelados ao sol, na protecção das intempéries. Comiam e bebiam e à noite voltava aquela lufa-lufa que tinham já vivido na noite anterior.

Certa noite algo estava diferente, o número de membros diminuiu. Os mais velhos deram pela falta de duas mais novitas, que normalmente o acompanhavam, quase coladas. As duas em questão eram bem diferentes do resto do grupo, queriam mais do que os outros na realidade lhes podiam dar. Tinham sede de saber, conhecer o que se passava além das fronteiras quase rígidas, impostas pelas gerações anteriores. Afinal o mundo era tão grande e custava-lhes ficar limitadas àquele território.

As noites passaram e não apareciam. Um dos mais velhos, curioso, dirigiu-se então à sua casa, já que viviam juntas. Queria uma explicação, não queria acreditar que aquelas duas se tinham fartado do grupo. Estariam doentes?

Foi então que descobriu a verdade. As duas, ávidas de saber, passavam as noites em casa acompanhando aquela que lhes podia transmitir as coisas que o resto do mundo tem. As prateleiras repletas de livros, evidenciavam as longas noites de leitura e aprendizagem que aconteciam naquele espaço. O ancião do grupo entendeu então qual a razão para a ausência das duas.

Perceberam que estavam a ser observadas do lado de fora da janela. Uma delas foi então ao exterior e falou com o vulto. Explicou-lhe que a ausência devia-se ao facto da sua dona estar sozinha em casa e precisar de companhia. Em contrapartida os livros davam-lhes conhecimentos, daqueles que o grupo não conseguia satisfazer.

Tal como prometeram ao ancião algumas noites antes, as gatitas retornaram ao grupo algumas noites por semana. Passaram elas a ser as mais entendidas em diversos assuntos. Não se deixavam porém levar pelo conhecimento. Tinham novas histórias para contar e acima de tudo respeitavam os outros membros do grupo.

Margarida sentia-se bem junto dos seus livros e das adoradas gatas, que apesar de passarem algumas noites deitadas junto a ela, pareciam absorver todas as palavras que lia, evidenciado pelos movimentos constantes das orelhas das duas aprendizas. Livros e companhia das gatas… afinal já pouco faltava…



Desculpem...

... qualquer coisinha.

Às vezes é preciso pedir desculpa, mesmo quando acho que não há razões para isso. Nunca se sabe...


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Momentos

Mal entrei em casa atirei-me para o sofá. O dia foi mais complicado do que previra quando acordei na manhã daquele dia. Só me apetecia fechar os olhos, entregar-me à sonolência. No entanto percebi que algo estava errado. Silêncio completo. Um silêncio arrepiante, como se eu estivesse num castelo abandonado e não num apartamento. Olhei em volta e notei que haviam rosas espalhadas pelas prateleiras dos livros, penduradas nos quadros e junto à porta do corredor um montinho de pétalas de diversas cores. Levantei-me e segui o colorido e a fragrância que emanava do chão. Aquele carreirinho levou-me à casa de banho, onde uma banheira com água quente e alguma espuma esperava por mim. Não me fiz rogado, despi-me e entrei naquele banho quase celestial. A espuma tinha o cheiro que eu tanto gosto. Junto à banheira um copo de vinho tinto. Foi então que apareceste e com um sorriso nos lábios entraste na água e sentaste-te junto a mim. Senti a tua pele, o suave toque dos teus lábios roçando os meus. Ficámos ali, em completo silêncio só interrompido por ténues chapinhares, esperando que a água arrefecesse e que tivéssemos que partir para outros prazenteiros momentos.


segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Diário frio

Pouco passa das seis horas da madrugada e cá estou eu de volta do meu diário. Acordei às 5, resultado de ter deitado demasiado cedo na noite de domingo. Foi o frio que me fez ir para o leito tão cedo, depois de um banho quentinho para aquecer os ossos. Liguei o rádio despertador, troquei algumas mensagens e entreguei-me ao reino dos sonhos.

Não consigo estar demasiado tempo na cama, pelo que me obriguei a levantar. Se o fizesse mais perto da hora de sair para o trabalho, seria dor de cabeça certa durante o resto do dia. É assim comigo, talvez por falta de motivos para me deixar estar mais tempo ou porque o meu corpo, já tão habituado, me prega essa partida diariamente.

Sentado em frente ao portátil, vestido, com o robe e mantinha pelas pernas, pantufas calçadas, tentando manter o quente que o corpo lança, aqui nesta sala que continua fria, tão fria como na noite de ontem. Já tomei o pequeno almoço, pelo que, pelo menos por dentro, mantenho-me mais quente. Pareço um velho, dirão alguns; outros poderão entender-me melhor.

Nenhuma história me sai das células cinzentas, talvez porque ainda não tenham acordado totalmente. Acho que prefiro o silêncio da noite para poder criar as minhas aventuras, passar para o registo alguns dos meus sonhos, já que outros ficam simplesmente a marinar, à espera de se concretizarem. Esses, os mais pessoais, ficarão apenas na minha memória, podendo quiçá serem lidos por quem tenha alma tão desconcertante como a minha, quem me compreenda e se reveja em mim.

Diz o meu maior crítico que só escrevo disparates, que cabe a mim passar das frases aos momentos, que só eu posso transformar o virtual em realidade. Respeito a sua experiência e tento até aprender com ela, porém por enquanto, deixo-me ficar no meu canto, esperando dias melhores. Que venha uma nova primavera. Entretanto ainda falta acabar o outono e decorrer o frio inverno.

                                   Deitei-me a pensar só em ti
                                   Assim faço a todo o momento
                                   Gostava de te ter sempre aqui
                                   Que me saísses do pensamento

Lembrei desta quadra agora, tantas vezes escrita ao longo dos anos. Vinte já passaram, acho eu. Duas décadas de poesia que contam grande parte da minha história. Os sonhos já referidos que de outra maneira não serão contados.

                                    Nos momentos frios de agora
                                    Que gelam até o coração
                                    Peço que peguem na mão
                                    E me levem estrada fora

                                          Escrevo apenas o que vai na alma
                                          O que nela paira a todo o momento
                                          É assim que este meu pensamento
                                          Me descansa e até acalma

                                   Que dos sonhos já tão pensados
                                   E que ficam nesta memória
                                   Pois já são a breve história
                                   De vinte anos já passados

                                          Que o frio não faça esquecer
                                          Pois o esquecimento é a morte
                                          Não quero para mim essa sorte
                                          Pois vou sempre escrever

De promessas está o Inferno cheio, já diria a avó de outro. A minha tem-se cumprido e desde que eu possa assim continuará, pois as prosas e os versos, sentidos ou inventados, bons, maus ou estragados, com bom efeito ou sem tino, continuarão a definir quem sou e serei .

                                  E antes que escreva sem nexo
                                  Apesar de sentir que já comecei
                                  Vou terminar aqui a escrita
                                  Pois nesta semana mais tempo terei.

Ribatejano, o poeta pateta


domingo, 17 de novembro de 2013

Fim

Só é bom para as coisas más, para as boas é sempre mau.

PS: Publicação número 250. Nunca pensei chegar tão longe...


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Falta

Reconheço a falta que me fazes quando percebo que não vou conseguir comer a outra metade da pizza.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Passatempos

Certo dia meti na cabeça que deveria ser pescador desportivo. Comprei uma cana de pesca numa loja oriental e parti para a aventura. Como não há rio por aqui com peixe optei por ir até ao mar. A tarde estava boa e o oceâno mantinha-se calmo. Pousei os apetrechos, coloquei isco no anzol e atirei-o para a zona de rebentação. Talvez por sorte de iniciante logo à segunda vez pesquei um peixe. Um carapau, que apesar de tentar fugir, foi parar ao balde com água que estava junto a mim. Voltei a lançar a linha, sentei-me e puz-me a apreciar o belo carapau.

Aquele peixão fitou-me com muito interesse. A certa altura assobiou-me e olhei para dentro do balde. «Ainda bem que olhaste, aqui sinto-me sozinho.» - disse o carapau - «Se quiseres conto-te uma história do sítio de onde eu venho.». Concordei e escutei-o com atenção.

«O meu mar é imenso e tem muita vida. Tanta que o homem nem sequer conhece uma ínfima parte do que lá existe. Conheci em tempos duas Cirrhitichthys falco, que vocês aqui na terra conhecem por peixe-falcão. Eram a Ada e a Eva e eram amigas desde a altura em que saíram das ovas de onde se desenvolveram. Eram inseparáveis, onde estivesse a Ada não muito longe estaria a Eva. Metiam-se em tantas confusões, que Neptuno, o Deus que manda nos oceânos, já nem dava grande importância.

Ada gostava de cantar e tinha uma das mais bonitas vozes do mar, até as sereias tinham inveja. Já Eva era mais dada a corridas, havia quem lhe chamasse até “carapau de corrida”. As duas juntas formavam assim o par mais desconcertante. Simpáticas com todos, amadas pelos mais chegados.

Acontece que naquela espécie quando o número de fêmeas é muito maior do que os machos podem controlar, há necessidade de uma delas mudar de sexo. Neptuno escolhe quem passa a ser macho, quem se tem que sacrificar para o bem da espécie. O chefe optou por Eva, que ao contrário do que seria de esperar, ficou muito desgostosa. Não se estava a ver com o nome de Ivo, ainda menos a controlar um harém de fêmeas tresloucadas. Mais preocupante ainda era a terrível separação de Ada, que ficaria no clã do outro macho reprodutor.

Eva decidiu ir falar com Neptuno. Não haveria outra fêmea que estivesse mais interessada em se entregar por tão grande honra? Neptuno não é Deus de se deixar ir por sentimentalismos e informou-a logo que a única hipótese era ser Ada a escolhida. De qualquer das formas as duas jamais poderiam continuar a ser amigas.

Chegou o dia da transformação e Eva lá compareceu perante Neptuno. Este, num momento raro de pura generosidade e sentindo pena de Eva, decidiu então quebrar as suas regras e fazer um acordo final com Eva: dar-lhe-ia mais um dia de fêmea com a condição que o utilizasse para fazer o que lhe dava mais prazer.

Eva pulou de alegria e sabia bem como passar o dia que Neptuno lhe dava. Correu em direcção ao sítio onde Ada estava, cabisbaixa, chorando pela amiga que nunca mais veria. Eva abraçou-a e explicou à amiga que tinham mais um dia juntas. Foi o dia mais bem aproveitado de ambas, fizeram de tudo o que mais gostavam. No final do dia, Eva, chegou perto da sua amiga, beijou-a e disse-lhe que a amava e que gostaria de ficar o resto de sua vida junto da sua mais querida amiga. Porém Neptuno tinha-lhe destinado uma vida completamente diferente. Ada despediu-se da amiga e Eva partiu em direcção ao seu destino.

Por ironia do destino o macho reprodutor que tinha o harém demasiado grande fora entretanto apanhado na rede de um arrastão espanhol e Neptuno viu-se na necessidade de transformar duas fêmeas para ocuparem os dois haréns. Eva passou a Ivo e Ada foi a outra escolhida, passando a chamar-se Edu.

Algum tempo depois Ivo e Edu encontraram-se por acaso no mar e ficaram estupefactos a olharem-se mutuamente. Tornaram-se bons amigos e de quando em vez ainda se encontram para partilharem as suas aventuras.»

Olhei o carapau e pensei cá para mim que o peixe só me quis enganar, mas tive de concordar que a história era até bem interessante. Decidi então dar-lhe mais uma oportunidade e soltá-lo, deixando-o partir em paz. A velocidade com que o perdi de vista fez-me crêr que tinha soltado um verdadeiro carapau de corrida.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Culinária

Não preciso de psicólogos ou psiquiatras, chegam-me os diversos hobbies e em especial a culinária. Não encontro melhor terapia para a minha tontice.

Estava a preparar as minhas migas (estão uma delícia) quando me lembrei de uma conversa que ouvi numa esplanada.

1ª voz - Hoje convidaram-me para trabalhar fora do país mas não aceitei.
2ª voz - Então porquê?
1ª voz - Porque não consigo viver tão longe de ti.

(silêncio)

2ª voz - E se eu fosse contigo?
1ª voz - Mesmo assim não aceitaria, pois sei que tens cá as tuas raízes e eu jamais queria que te afastasses delas.

As coisas de que me lembro enquanto preparo os meus pitéus...


domingo, 10 de novembro de 2013

deshumores

Às vezes fico mal humorado sem razão aparente.

Há quem diga que é por me esconder demasiado.

Não entendo o significado do que me dizem.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Culinária e outras estórias

Ingredientes:

5 dentes de alho
1 cebola média
meia beringela
dois tomates médios
cenouras a gosto
azeite
1 caldo de carne
água

Preparação:

Picam-se todos os ingredientes colocam-se num tacho e vai a cozer. Depois de cozido, triturar e juntar um pouco mais de água, para o creme não ficar tão grosso. Juntar feijão cozido e arroz ou massa. Deixar apurar, corrigir os temperos e não esquecer o picante, para quem apreciar. Serve-se a sopa quentinha e guarda-se a restante no frigorífico, após arrefecer.


Estava a preparar a sopa quando me lembrei do velho Pedro, Mestre Pedro como o povo lhe chamava, por ser um dos melhores marceneiros das redondezas. Do Mestre Pedro já ninguém sabia a idade, todos se tinham habituado à velha oficina de onde saiam belas peças de mobília ou outros arranjos, que o velho homem sempre desenrascava quem precisava. Nas tardes de primavera e verão a loja estava quase sempre cheia, não de clientes, mas de crianças que o ouviam a contar histórias. Não havia melhor contador de histórias, contadas vezes sem conta, há já várias gerações. Os pais das crianças tinham ouvido as mesmas histórias quando elas próprias eram petizes.

Mestre Pedro contava cada uma como se se tivesse passado no dia anterior. Gesticulava freneticamente, enquanto usava habilmente as suas ferramentas e construía as peças que seriam o seu único sustento. As histórias de África eram as mais apreciadas, mas as da sua passagem pelo circo ou as suas aventuras em terras de Sua Majestade, também caiam muito bem no goto da criançada. Contava-as como suas, embora os mais adultos, com o passar doa anos, acreditavam que eram apenas histórias, criadas por um cérebro fértil.

«Mestre Pedro... da última vez não foram só 3 leões?» - questionava um petiz mais perspicaz. Mas o velho Pedro não se engasgava e logo dizia, «Claro que disse. Mas da última vez vocês eram ainda muito novos para saberem toda a verdade. Se eu vos dissesse que tinham na realidade sido 6 leões, vocês desatavam a fugir daqui com medo.». A risada era geral.

À noite Mestre Pedro recordava as suas histórias, aquelas que tantos pensavam ser meras fantasias de um velho tonto. Mas não eram e as mais fantásticas e maravilhosas não se atrevia a contá-las ao povo. Pedro recordava aquele tempo em que, com apenas 14 anos de idade, tinha passado na selva africana. Umas férias inesquecíveis, passadas em conjunto com outros jovens da mesma idade e outros um pouco mais velhos. Todos filhos de homens ligados às minas, que gozavam de umas férias normalmente longe da civilização, mais perto das tribos nativas, as amigáveis apenas.

Na mesma tenda do jovem Pedro estava também John, filho de um dos administradores ingleses. John, um pouco mais velho, tinha cabelos loiros e olhos azul-esverdeados. Alto, másculo, simpático, amigo da brincadeira. Tratava Pedro como se de um irmão se tratasse e Pedro via no inglês a perfeição em pessoa. Era costume no acampamento os mais velhos tomarem conta dos mais novos, mas John, ao contrário dos outros, quando se juntava com os da mesma idade, tinha por costume levar com ele o camarada de tenda e Pedro sentia-se importante. Era apenas um puto entre os mais velhos, mas era respeitado pois John impunha esse respeito.

Certa noite o acampamento foi rota de visitantes inesperados e nada bem vindos. Um grupo de leões, talvez mais curiosos do que ferozes, invadiram algumas tendas, pondo os seus moradores a fugir. Pedro, que normalmente dormia como uma pedra, de tão cansado que ficava com as actividades diurnas, nem dera pelo perigo. Quando abriu os olhos deparou-se com uma fera a olhar para ele, olhos nos olhos praticamente. Pedro nem se atreveu a lançar qualquer ruído, na esperança que o nobre visitante desse meia volta e fosse embora, que não o achasse um pitéu.

John percebera que ao se ter afastado da tenta poderia ter deixado inadvertidamente para trás o seu companheiro. Sem pensar sequer na sua própria vida, lançou-se em direcção ao acampamento, agarrou um galho, entrou na tenda e fez frente ao leão. Um rugido entoou e a fera simplesmente saiu, não se sentindo minimamente ameaçada pelo jovem inglês. Pedro levantou-se e abraçou John, o seu salvador. O perigo passou e todos voltaram ao acampamento. Na restante noite, Pedro dormiu seguro nos braços de John. E nas seguintes também, não fosse o leão voltar.

O velho Pedro acabava sempre com lágrimas nos olhos. Depois desse verão não voltou a ver John. Soube apenas que voltou à Escócia e não mais soube dele. Os anos passaram e a imagem do inglês jamais lhe saiu do pensamento. Pedro cresceu, alimentado com uma ínfima esperança de voltar a ver o outro rapaz.

Era Natal. A noite estava fria e Mestre Pedro mantinha-se no velho cadeirão, enrolado na manta de retalhos de que tanto gostava, junto ao lume. Dormitava já há algum tempo quando sentiu uma presença junto a si. Abriu os olhos e uma luz muito branca estava à sua frente, luz que se desvaneceu e fez aparecer uma bela cara, um anjo.


Estendeu a mão em direcção de Pedro e sorriu. Pedro, tão corajoso quanto a sua avançada idade o permitia, estendeu a mão, levantou-se e sentiu que o chão lhe faltara por baixo dos pés. Fechou os olhos e quando os tornou a abrir reconheceu o pano da velha tenda daquele acampamento que nunca esquecera. Tinha de novo 14 anos e estava deitado, seguro nos braços de John.

No outro dia de manhã, o velho Pedro foi encontrado sem vida, junto à lareira com cinzas ainda fumegantes. Um sorriso ficou-lhe estampado nos lábios e a sala cheirava a flores.



Eis mais uma estória, escrita enquanto os ingredientes da minha sopa de legumes cozem. Está na hora de voltar à cozinha e abraçar as tarefas culinárias em falta, pois do velho Pedro, já só restam memórias.

domingo, 3 de novembro de 2013


Por este motivo.

Feriado

Podem tentar acabar com as tradições e até introduzir outras que não nos dizem coisa alguma, mas a verdade é que temos que ser cada um de nós a manter a tradição.

Deve ser o título possível para uma obra literária mais longo de sempre. A verdade é que não será um título mas apenas o início de um pensamento que invade os arquivos onde se alojam as memórias mais antigas.

Dia 1 de Novembro deixou de ser feriado. Foi suspenso, diz a lei. Cá para mim foi eliminado para sempre. Outros feriados foram eliminados do nosso calendário e este será apenas mais um. Outros continuam a ser lembrados e este continuará a ser. Pois a memória é muito mais importante que qualquer lei que nos seja imposta.

Já quase não se vê quem peça o "Pão por Deus", mesmo aqui no campo. Ou pelo menos o número de crianças a fazê-lo é cada vez mais diminuto. talvez porque a miséria afinal não é tanta ou porque a taxa de natalidade é cada vez menor, não se renovando as populações.

Já o dia 2 não deixa de ser dedicado aos Finados. Ao menos que o povo se lembre de visitar cada cemitério, onde jaz parte da história de cada um. Gosto de visitar cemitérios. Não é um lugar tão triste como muitos pensam. Enquanto nos lembrarmos dos entes queridos que por lá repousam, não passarão ao esquecimento. Eu não esqueço de quem partiu e a quem um dia me juntarei. Chamem-me antiquado, mas só assim me consigo definir enquanto pessoa e continuador da tradição.

Não me venham com essas tradições dos outros que comigo não pegam. Nem no tempo de escola eu gostava dessas comemorações e nunca gostei que me fossem impostas. Infelizmente contavam para a nota final e isso fazia-me, apesar de alguma revolta, estudar o assunto e apresentar os trabalhos necessários. Talvez seja a minha costela de camaleão, adaptar-me às dificuldades que aparecem.

Foi um fim de semana de abusos. Claro que me refiro às questões gastronómicas. Jamais posso deixar para trás as deliciosas broas, tradição desta época festiva. venham as broas de chocolate, de mel, batata doce e todas as qualidades existentes. Venham as cobertas com açúcar ou simplesmente recheadas com frutos secos. Não esqueçamos as pevides, os tremoços, as nozes, os figos secos, as passas de uva, os amendoins, pistácios. Se bem que os frutos secos não sejam tão mais quanto o açúcar que compõem as broas. Fecho os olhos nestes dias e esqueço a saúde. Afinal só no final de Dezembro o "regabofe" volta, há tempo para recuperar, penso eu.

Já não se junta a família como eu gostava. Uns partiram e já não voltam, outros estão mais longe e as dificuldades da vida aumentam a distância. Cabe a cada um de nós manter a tradição e tentar que seja o que sempre foi, apesar das adversidades.