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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Regulamento - parte 5

O jardim era mais maravilhoso do que tudo o que já vira anteriormente. Árvores enormes formavam um claustro, rodeando um lago com água tão clara que se viam os peixes e as pedras lá dentro. Quando nos aproximámos daquele espelho um peixe veio à superfície, como que a cumprimentar o homem de toga. Aves esvoaçavam pelo ar. Pássaros de mil e uma cores, brilhantes. Sentámo-nos sobre uma pedra e conversámos.

«Quando escrevi o regulamento de acesso às portas do paraíso tudo era mais fácil», explicou-me Deus. «Não havia confusão porque quase não haviam pessoas. Com o passar dos séculos o caso mudou de figura. Para começar os homens tornaram-se fúteis, interesseiros, desordeiros. Não cumpriam as regras que lhes impunha». Olhei-o. «Mas não é suposto o homem gozar do livre arbitrio?!». «Sim, era essa a ideia inicial. Pelo menos pensava eu que era, mas mudou muito o ser humano. Então tive que ir mudando as regras, tentando adaptar o regulamento à realidade. Durante muitos séculos não foram necessárias grandes mudanças mas ultimamente a coisa pia de outra forma.». «Então e porque é que nós somos diferentes? Não merecemos o teu amor de igual forma?», perguntei. Deus levantou-se, espreguiçou-se e voltou a sentar-se. «Qualquer pai deve amar os seus filhos, independentemente dos disparates que façam ou dos caminhos que tomem. E eu não sou diferente. O problema é que até o paraíso se tornou político.». Achei a expressão estranha. «Os anjos e os arcanjos passaram a ter opiniões diferentes e os santos vieram colocar ainda mais questões. Vê o caso de Pedro. Tem dias que ninguém o consegue aturar. É a velhice, dizem alguns... mas eu acho que é mesmo casmurro. Se calhar é defeito de ter sido pescador.». Mandou uma gargalhada sonora que até um unicórnio se assustou. «E não era dos melhores até eu o ter ajudado a pescar com fartura.»


«Então quer dizer que tens um regulamento mas não concordas com ele. Parece-me um pouco estranho, uma vez que és o criador de tudo.». Deus fitou-me. «Pois. A realidade é que aqui no céu apesar de eu governar como todo poderoso não sou nenhum ditador. Já foi o tempo em que eu tinha que decidir tudo. Um dia decidi que devia partilhar a responsabilidade. Numa visita à terra, encontrei uma rapariga bonita e perdi-me de amores por ela. Ora como era minha intensão partilhar o governo do céu, qual a melhor solução além de encontrar um herdeiro? E assim nasceu Jesus, o meu filho e herdeiro.»

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