Este blogue tem conteúdo adulto. Quem quiser continuar é risco próprio; quem não quiser ler as parvoíces que aqui estão patentes, só tem uma solução.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Duche


Às vezes gostava que a água levasse mais do que o pó e o suor. Que levasse outras impurezas que compõem a minha vida.


Esta mensagem é a número 200. Deveria publicar algo especial... 



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Romeu e Julião

Romeu e Julião tinham sido educados para se odiarem. As suas famílias eram inimigas mortais. O clã Capuleto, a que pertencia Romeu, há muito que queriam ter a importância política dos Mercúcio, família de Julião. Já na escola onde estivesse Romeu não podia estar o outro rapaz. Todo esse ódio inexplicável acabava por dividir toda uma escola. Até alguns professores embarcavam na loucura ancestral. Uns por familiaridade, outros por uma espécie de vassalagem.

No interior dos corações dos rapazes havia porém uma incerteza desconcertante. Se por um lado precisavam de cumprir a orientação e tradição familiares, por outro uma força incontrolável que os impulsionava a olharem para o outro lado daquele campo de batalha. A força aumentava a cada dia que passava. Mas o que poderiam fazer dois miúdos de 15 anos?

Estava uma tarde como tantas outras. As crianças brincavam no pátio da escola. Romeu e Julião, que se envolveram numa acesa discussão sobre assuntos de família durante a aula, estavam de castigo. O professor, apesar de não estar alheio a tal luta, posicionou-os na mesma mesa. Lado a lado.

A sala tremeu. Os livros caíram das prateleiras. A velha balança estatelou-se no chão de madeira encerado. Os miúdos só tiveram tempo de meterem debaixo da secretária e logo após sentiram que o mundo desabava.

Toda a escola tinha ruído e aqueles eram os únicos que tinham ficado dentro dela quando o sismo abalou todo o edifício. As famílias desesperavam e velhos ódios acenderam-se obrigando à intervenção policial, separando-os, impedindo que houvesse vítimas de luta, nada a ver com a desgraça que se tinha abatido por toda a vila.

Dois dias passaram até que finalmente os bombeiros conseguiram abrir um corredor, por entre os escombros, até à sala onde Romeu e Julião se encontravam. Debaixo da velha secretária de madeira, os dois rapazes, alheios ao que se passava do lado de fora, uniam-se para sobreviver. E no meio de tanta aflição, Romeu puxou Julião para si, abraçou-o e deu-lhe um beijo.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Coleccionismo

Sempre desejei ser coleccionador. Juntar qualquer coisa com que pudesse ocupar o tempo. Já tive calendários, cromos, caixas de fósforos, pacotes de açúcar, entre outros. Ainda por lá tenho uma mini pequena colecção de moedas de 100$00 e 200$00. Já nada valem mas ficam de recordação.

Vasculho o que já escrevi ao longo dos anos e acabo por descobrir que a maior colecção são os textos inacabados. Acho que se tornou o passatempo que nunca imaginei ter. Velhos poemas e contos começados vinte anos atrás acumulam-se com outros mais recentes. Acumulam-se é forma de dizer, pois tenho tantas coisas espalhadas que por vezes lhes perco o norte.

Recentemente tive a oportunidade de acabar uns textos que foram iniciados ainda no século passado. Acho que até ficaram bons, pois nota-se a diferença de escrita. O facto de eu estar mais crescido. Curiosamente acabei por lhes dar o fim inicialmente pretendido. A minha memória ainda se lembra de algumas coisas.

Mesmo aqui no computador os escritos inacabados já se vão acumulando. Alguns porque acabo por me entusiasmar e escrevo mais do que devia, indo por caminhos tão dispersos que depois não consigo dar-lhes o fim que já destinei. Outros porque o fim não aparece. E cá ficam à espera que eu pegue de novo no assunto e lhes dê o fim digno que merecem.

Preguiça dizem alguns. Amadurecimento, digo eu.

"Piropos"

"Gostei do cheiro do teu after-shave."


E pronto, posso continuar a comprar o mais barato do mercado.


quarta-feira, 12 de junho de 2013

Sons do campo

É estranho, já não ouço o relógio da capela a tocar durante a noite. Consequência de uma lei que se esqueceu da importância de tal dispositivo no meio rural.


A capela vai ainda sendo, sem qualquer sombra de dúvida, um dos mais importantes elementos sociais dos pequenos centros rurais. Não se trata apenas de um lugar de culto. É acima de tudo um espaço social.

O toque do relógio sempre foi um elemento crucial. No meio da lavoura, era o som do martelo a bater no sino, que ordenava o início, pausas e fim do dia de trabalho. O relógio sempre foi companhia nos tempos de solidão. É a certeza da hora certa. A união entre todos.

Hoje os relógios povoam os pulsos de todos, tal como os telemóveis, computadores e outros dispositivos modernos. Sempre gostei de ouvir o toque durante a noite. O silêncio é mais desconcertante, faz-me sentir mais só, aumentando a nostalgia de outros tempos.


As leis dos homens são muitas vezes implacáveis, pois esquecem que, apesar do país ser pequeno, as diferenças existem. A vida da grande cidade impõe silêncios. A vida do resto do país implora compreensão. E o silêncio no meio rural não é bom presságio.


(texto original escrito logo a seguir ao anterior publicado)



terça-feira, 11 de junho de 2013

Eu ainda sou do tempo...

Era assim que começava uma publicidade de uma cadeia de distribuição nacional, quase há uma década atrás. Recuo uns trinta anos na minha curta vida. Nessa altura, na minha aldeia de origem, haviam duas mercearias, sendo uma delas explorada por alguém que me é querido.

Recordo que nessa altura a escolha era muito limitada, não havendo mais de duas ou três marcas de cada produto disponível. Uma única marca de leite (só gordo claro). Ainda vinha em garrafas de plástico que eram trocadas, eram vasilhame. Hoje seria impensável levar a garrafa debaixo do braço de novo para a loja.

O sabão azul e branco era vendido ao peso, após ser cortado de uma barra com quase 50 centímetros de comprimento. Não havia detergente para a máquina de lavar a roupa, que era um luxo inexistente em 99% das habitações. Havia detergente em pó para lavar à mão, em tanques de betão ou de pedra, como os que ainda existem no lavadouro público. Palha de aço para arear. Esfregão de arame para esfregar o chão de tacos de madeira, que seria lavados com REX (na verdade chamava-se XER, mas o povo achava o nome mais complicado). Depois havia a cera para proteger o soalho.

A marmelada era ainda vendida ao peso. A loja tinha-a em tabuleiros com cerca de 40 x 30 cm. A papa das crianças era presença constante nas prateleiras. Chupa-chupas e outros rebuçados, vendidos à unidade. Recordo os caramelos Vaquinha, cubos com cerca de 1,5 cm de aresta envoltos em prata com uma vaquinha impressas. Eram sem sombra de dúvida os meus favoritos. Ainda salivo só de imaginar aquele sabor tão delicioso.

Lembro a antiga marca de chocolate Regina e uns redondos envoltos em prata com diversos desenhos impressos, de vários temas, que todos gostávamos de coleccionar. Desembrulhavam-se com muito cuidado e tiravam-se os vincos com as unhas. Mais tarde seriam trocados os repetidos com os amigos.

Numa das mercearias estava instalado um posto público de telefone. Pagava-se ao impulso que aparecia num contador próprio. Era a dona da mercearia que percorria a aldeia a chamar as pessoas e a avisá-las que haviam chamadas.

Busco estas memórias sempre que vou a uma grande superfície e fico pasmado com as quantidades disponíveis e com as marcas. Quando os preços são idênticos, a escolha é mais difícil. Com menos marcas seria muito mais fácil escolher, o erro seria bem mais diminuto.

Há 30 anos atrás a mercearia era ponto de encontro dos vizinhos. Lá sabíamos as coscuvilhices, as notícias, datas de eventos importantes como as inscrições para a escola ou a vacinação dos cães. A mercearia era um centro social e o livro dos assentos (calotes) espelhavam as necessidades de uma população. A mercearia fiava, não deixando que os mais desfavorecidos se sentissem tão inferiorizados em relação aos restantes, já que todos pediam fiado. Era uma instituição de crédito sem juros.

As grandes superfícies actuais são bancos que só aceitam depósitos. Não há comunicação entre as pessoas pois somos todos estranhos. É claro que nos meios mais pequenos o supermercado ainda funciona como um centro social, pois os clientes vivem ainda quase todos na mesma área, algo que não acontece nos grandes centros urbanos (às vezes nem os vizinhos do prédio são conhecidos).

Dou comigo a escrever testamentos, por isso termino esta intervenção, esta descrição dos meus tempos de criança. Cresci, mudei de meio e aos poucos, vou perdendo laços que me foram tão queridos e que ajudaram a fazer de mim quem sou. Resta-me a memória e a esperança de continuar a dizer "Eu ainda sou do tempo...".


PS: Este texto foi escrito à noite. Qualquer erro é culpa do escurinho da noite. lol

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Pensamentos

A bússola aponta sempre o Norte.


A minha vida aponta para qualquer direcção.


Ainda não descobri qual...

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Desafio

5:20h da madrugada e cá estou eu de volta do blogue. Desta vez aceitei o desafio do Francisco (que foi desafiado também pela Margarida) e colocar aqui fotografias de livros que tenha a ver com o blogue.

Não é fácil mas aqui vai:

RIBATEJO

Relembro sempre esta série da qual tenho alguns exemplares

É claro que a minha alma é ribatejana... os cornos... pois... sou touro de signo (tudo a ver).

OESTE

Falar do Oeste e não falar da pêra rocha, o ouro da zona seria imperdoável

Ok ok... este oeste fica bem para lá do Atlântico, mas às vezes penso que cá fazia falta um herói deste calibre

Eu tentei... mas ao contrário de outros blogues, escolher livros que identifiquem este canto é mais complicado (poderia seguir o caminho mais fácil, mas como diz a publicidade "não seria a mesma coisa").



quarta-feira, 5 de junho de 2013

A primeira vez

Devia ter os meus 14 anos. Foi em casa que experimentei de novo. Tinha tentado anos antes mas não consegui pelo que me sentia algo inseguro. Era mais velho que eu mas eu gostava e era o que estava à disposição.

Achei que seria a altura ideal para dar o grande passo. Saí de casa e olhei a rua. Tomei coragem e avancei. As primeiras tentativas foram algo estranhas mas depois habituei-me. Houve lágrimas, sangue, dor. Mas de uma vez por todas fui até ao fim e aguentei-me bem.

Desde então não parei. Andar de bicicleta é sem dúvida um dos meus passatempos favoritos.

Quando...

... acordei já não estavas a meu lado.

A noite deve ter sido um pouco agitada, pois a almofada estava no chão.